Em Djajaperre, cidade vibrante e promissora sob o
sol ameno, onde o clima é sempre favorável para qualquer atividade, seja ela de
comércio, indústria, arte ou turismo, vivia Sybill Kaprinski, uma jovem de
cabelos e pele clara, herdeira de uma fábrica de mármore e granito. Seus olhos,
da cor da noite sem estrelas, contrastavam com o sorriso cálido que oferecia
aos clientes. Sybill, apesar de mostrar-se sempre sorridente para sua clientela,
era conhecida por sua frieza, gélida como as lápides que sua fábrica produzia.
Não era antipática, mas no entanto, não exalava perfumes em seus gestos e nem
tão pouco poesia em suas palavras. Era uma garota de poucas falas e muitas das
vezes, respondia apenas com monossílabos.
A
frieza de Sybill era um verdadeiro enigma para a cidade. Uns diziam ser herança
de seu pai, homem austero que comandava a fábrica com punho de ferro. Outros
murmuravam sobre um amor perdido, um coração partido que se trancara em uma
redoma de gelo.
A
fábrica prosperava sob a tutela de Sybill. Seus instintos aguçados para os
negócios e sua obsessão pela perfeição resultavam em obras de arte esculpidas
em pedra. Mármores translúcidos que pareciam capturar a luz do sol, granitos
com veios que contavam histórias milenares. A fama da fábrica se espalhou,
atraindo clientes de terras longínquas.
Apesar
desse enorme sucesso, Sybill permanecia distante. Seus dias transcorriam entre
a agitação e o barulho fábrica e a solidão silenciosa de sua casa, um mausoléu
de mármore branco onde vivia cercada por lembranças do pai e do amor que se
esvaiu. Sybill quase não falava da mãe, já que a perdera para uma rara doença
quando ela tinha apenas oito anos de idade. Desde então, ela fora criada pela
pai e educada pela sua aia, madame Duvivier, uma senhora de fala mansa e de
atitudes firmes que educava a pequena menina com conceitos inspirados na “Arte
da Guerra” de Sun Tzu e nos livros de poesias clássicas de grandes escritores
da Europa e do Brasil.
Um
dia, um escultor chamado Giorgio Adzurc, uma rapaz de corpo não muito atlético,
cabelos longos e negros como betume e de um sorriso fácil, chegou à cidade. Seus olhos, como brasas
ardentes, contrastavam com a frieza de Sybill. Giorgio era apaixonado por sua
arte, e via em cada pedra, desde o mais pequeno pedregulho até a mais enorme
das rochas, uma oportunidade de dar vida a suas emoções. Giorgio era conhecido
como o “poeta das pedras”!
Ao conhecer Sybill, Giorgio se encantou com sua
beleza melancólica e sua mente perspicaz. Intrigado por sua frieza, ele se
propôs a desvendar o enigma que a cercava. Com gentileza e persistência,
Giorgio foi quebrando as barreiras de gelo que Sybill havia construído em volta
do seu coração. Um dia, após muita insistência, Giorgio, enfim convenceu Sybill
a encarar juntos, um projeto de criar algo enorme, tanto em valor real, quanto
em valor histórico e cultural.
Juntos então, trabalharam em uma obra monumental:
uma escultura que iria representar a união do fogo e do gelo. Desta forma, a
pedra mais bruta daquela “floresta fria” de granito e mármore, se rendeu à
paixão de Giorgio e à expertise de Sybill, transformando-se em uma obra de arte
que emanava beleza e emoção. Ao ver a obra finalizada, Sybill se viu diante de
um espelho. A frieza que a aprisionava por tanto tempo se estilhaçou, dando
lugar a um calor que há muito tempo não sentia. Ela se rendeu ao amor de
Giorgio, permitindo que a brasa de sua paixão aquecesse seu coração gélido e
endurecido pelo tempo.
A história de Sybill se espalhou por Djajaperre e
por todos os arredores, inspirando a todos que a ouviam. A "Fria como uma
Lápide" se rendeu ao amor, mostrando que até mesmo o coração mais
endurecido pode ser transformado pela paixão. A fábrica de Sybill continuou
prosperando, agora com obras que emanavam não apenas perfeição técnica, mas
também a beleza, a poesia e a emoção de um amor renascido.
Sobre
Giorgio, ele era rapaz de sobrenome Moretti Adzurc, nascido
em Konya, Turquia, filho de mãe italiana e pai turco, Giorgio teve uma infância
rica em experiências culturais. Desde cedo, foi influenciado pela beleza dos
mármores de Carrara, cidade natal de sua mãe, para onde se mudou com os pais
ainda na adolescência, e pela paixão do pai pelas viagens, que tinha isso como
ofício. E foi justamente isso que o levou a conhecer lugares como o Brasil, a
Índia e a Caxemira, onde se encantou com beleza dos granitos. Após se formar na faculdade, Giorgio
dedicou-se à escultura em mármore, pedra-sabão e granito. Sua paixão pelas
artes plásticas e pelo artesanato era evidente em suas obras, que demonstravam
grande talento e criatividade. Com um
espírito aventureiro e desejo de conhecer o mundo, Giorgio levou suas habilidades
para diversos cantos do planeta. Sua vida era marcada pela busca incessante por
novas experiências e inspirações. Apesar de sua paixão pela vida, Giorgio nunca
se casou e não se prendia à ideia de relacionamentos duradouros do tipo “juntos
para sempre”. Ele preferia manter sua liberdade e independência, explorando o
mundo e seus diversos amores, sonhos e paixões, sempre com uma mente aberta e
coração aventureiro. Sua arte, fruto de uma vida rica em experiências e
culturas, serve para nos mostrar como é grande a beleza e a diversidade que
existe em nosso planeta. Essa visão e opinião sobre o amor e o casamento, mudou
completamente quando ele pisou em pés em Djajaperre.
Sobre
Sybill, no entanto, não se sabe o porquê que dela ter aquele comportamento frio
e distante, mas isso não importa mais, pois tudo acabou perdendo a sua relevância,
porque agora, para Sybill, Giorgio e todos os habitantes de Djajaperre, o que
importa mesmo, não é saber o motivo que a levou durante anos, viver presa em um
mundo frio e distante, mas sim a razão que a fez sair de vez daquela prisão de
gelo: o amor pela arte e pela vida!
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